Um anjinho chamado Kimi

Quintal de Marília

21 dias depois de sua chegada na Finlândia, meu gatinho Kimi, faleceu. Quem me conhece bem sabe como o Kimi era uma das luzes da minha vida. Ele entrou quase como quem não quer nada, e mudou tudo que eu pensava, sentia e vivia. Simplesmente minha vida nunca mais foi a mesma depois que ele veio fazer parte de tudo.

Em 2007 eu fazia aulas de alemão na Wizard de Marília, no interior de São Paulo. Havia me tornado amiga do professor e sua mulher e um dia durante uma aula, ele comentou que sua mulher havia achado dois gatinhos machucados na rua. Sozinhos, sofrendo e mal nutridos. Ele comentou que ela os havia levado a uma petshop para serem adotados. Na hora, movida por alguma força maior, eu inexplicavelmente disse " se algum deles não for adotado, eu quero".


Hã? Eu... ter um gato? Eu nunca tinha tido gatos, tínhamos duas cachorrinhas em Santos ( a Chanel e a Sasha, ambas já falecidas) e além de tudo, eu não morava sozinha. Morava com 3 colegas de faculdade numa república. Aquela frase, quando eu disse ao professor que ficaria com um dos gatinhos... eu nem sei de onde veio, foi como se não viesse exatamente de mim, quando eu "acordei" já tinha falado. O dia passou. À noite o professor meu ligou. Um gatinho não havia sido adotado. Era meu. Na verdade, ele ainda me perguntou se eu realmente queria o filhotinho. E mais uma vez antes que eu pudesse pensar, após já ter conversado com as pessoas que moravam comigo sobre a decisão, eu disse que não tinha mudado de ideia. E assim o Kimi entrou na minha vida. 


Kimi. De Kimi Raikkonen. Sempre adorei fórmula um e naquele ano o Raikkonen foi o campeão. Eu torcia pra ele e resolvi dar o nome do meu gatinho de Kimi. Eu sabia que o Raikkonen iria ganhar, mesmo com poucas chances. E assim foi. Antes mesmo de olhar a carinha do gatinho, ele já tinha um nome. E nem imaginava que a partir do dia seguinte tudo também mudaria na sua vida. 

A janela da casa do meu pai era uma paixão dele.
Fui buscá-lo na manhã seguinte e ele era a coisinha mais estranha que eu já tinha visto! Super brincalhão e divertido. E assim nosso elo se estabeleceu. Ele entrou na minha vida quando eu estava passando por um momento emocionalmente delicado e sua chegada e alegria me deram forças. Cuidar dele, amá-lo, deixar que ele me amasse também foram aspectos muito importantes no meu amadurecimento. Enfrentamos muitos problemas juntos também. Ele ficou por vezes doente, perdeu a maior parte da visão e as vezes fazia xixi fora do lugar (isso era decorrência de uma inflamação crônica que eu só descobri aqui). 


Ele nasceu em Marília, no interior de São Paulo, em 13 de setembro de 2007. Viajou para Botucatu (duas vezes), morou em Santos, no litoral do estado, em São Paulo e após um mês de "férias" na casa da vovó novamente na praia... veio para a Finlândia. E aqui ele partiu, em 15 de agosto de 2018. Aos quase 11 anos de idade.

Enquanto morei na Holanda, o Kimi ficou com meu pai e sua cachorrinha Sasha. Nesta época a Sasha operou um tumor e ficou com pontos. Ele costumava ficar deitado num canto separado da sala, onde batia bastante sol. Mas enquanto ela estava debilitada com os pontos, ele ficou "cuidando"dela. Dormindo ao lado dela em todos os momentos. E somente quando ela tirou os pontos, ele voltou ao seu lugar de sempre, perto da janela e do sol.  

E ontem, ele estaria fazendo aniversário. E eu queria que ele pudesse estar aqui. Quando ele começou a adoecer, eu não imaginava que "não teria jeito". A cada pequena melhora (para depois piorar), eu dava pular de alegria e meu coração se enchia de felicidade. Pensando que logo ele estaria bom. Que poderia operar os tumores, que iria fazer o tratamento do câncer, qualquer que fosse ele. Que estaria forte para qualquer uma dessas coisas. Eu realmente não acreditava que ele poderia partir. Estava cega para esta possibilidade. E até o último dia eu me neguei enxergar isso.

Ele estava bem ruim naquele dia. Já no veterinário para tomar soro e administrar mais remédios. Ela me ligou dizendo que haviam descoberto mais problemas com ele, além de mais um tumor em outro lugar do corpo. Fui até lá. Ele aparentava um pouquinho melhor, mais fortinho, pois havia tomado bastante soro. Ele era um ronroneiro, ronronava o tempo todo e vivia como a minha sombra. Mas neste dia já fazia quase 1 semana que não ronronava. Eu estava chorando e conversando com ele, pedindo que voltasse para casa, que ficasse bom logo. Estiquei minha mão próximo a ele e perguntei se ele queria voltar para casa comigo.

Perguntei a ele se estava preparado para ir embora, para dormir e encontrar outros gatinhos do outro lado do véu. Ele colocou a cabeça na minha mão, e começou a ronronar. Desabei. Chorei. Mas era como se ele estivesse me dizendo que era o momento de ir embora mesmo e que ele estava bem assim. Foi assim que ele se despediu de mim. E que eu soube que seu espírito estava bem, que ainda estávamos unidos.

Esses anos todos juntos. Aprendendo tantas coisas com ele, a como cuidar e amar. E crescemos juntos e amadurecemos juntos também. Ele era viciado em mim e eu nele. Ele me seguia e me recebia na porta. Ele era engraçado e como era meio cego, vivia batendo nas coisas. Ele parecia que após bater, ele seguia feliz como se nada tivesse acontecido. E isso me ensinou algo, que eu deveria tentar ver a vida como ele. Sem o rancor de ter perdido algo ou não ser mais a mesma; com a felicidade do momento atual e com os instrumentos de que disponho ser meu melhor. E continuar feliz.




Em casa

Olhando pela janela da nossa casa na Finlândia

Comentários

  1. Ai amiga... sei exatamente como é isso. Chorei. Ver você contando fez várias cenas que vivenciei com os meus anjinhos passarem pela cabeça também. Acredito que do outro lado existe um "céu" para eles também, ou como queiram chamar. Um dia quem sabe vocês não se reencontram? ♥

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