Contagem regressiva - O nono mês

 O nono mês - A primeira noite separadas

O nono mês foi marcado novamente por médicos e pela minha saúde. Umas semanas antes de que ela completasse 9 meses, recebi a carta informando que meu novo exame de imagem para determinar qual a melhor operação para tratar o aneurisma. A data era 12 de novembro. Justamente o dia em que a Cecília completaria 9 meses. E eu não poderia estar com ela ou fazer a foto de flores. 

Eu havia falado com o neurocirurgião um mês antes, quando ele me fez a proposta de que se a melhor operação fosse uma realizada através de um catéter inserido na coxa, próximo à virilha (da mesma forma que o exame de imagem é feito), eles prosseguiriam do exame direto para a operação, visto que a última vez que eu tinha feito um exame de imagem com contraste eu havia tido uma pequena reação alérgica. Depois de refletir um pouco, discutir com ele as opções e conversar com familiares, decidi que esta seria a melhor forma realmente. E passei a torcer para que o exame constatasse que essa era a melhor operação. A mais simples. 

A outra operação possível seria uma craniotomia, onde eles entrariam no cérebro através de um furinho feito no crânio. Passei o mês pensando nisso, uma sensação pesada e de angústia. Um medo do exame e de estar entre os poucos casos nos quais há algum problema na operação. 

Eu nunca tinha tido esse tipo de medo antes da gravidez e de ser mãe. Tinha medo de diversas coisas, mas desta vez, era um misto de medo, de certeza de que algo ruim aconteceria "só porque eu estou tão feliz". Um medo de não estar aqui para vê-la crescer e aproveitar momentos ao seu lado e ao lado do Kimmo. Medo de não ter mais futuro. 

Comecei uma série de vídeos para a Cecília (e seus futuros irmãos). Contando de mim. Quem sou, o que gosto, o que faço, falando do mundo de 2020, de toda essa loucura que vivemos o ano passado. Falando de como ela é, das coisas que faz e apresentando nosso universo a ele. O Kimmo faz os vídeos comigo. Contamos histórias do passado, imaginamos o futuro, fazendo pequenas apostas sobre como serão as coisas quando ela finalmente assistir a esses vídeos. Os vídeos me deixaram mais tranquila, uma parte de mim está em vídeo e mensagem para ela para sempre. Fazer os vídeos (e sempre pensar em estar com ela nesse futuro para o qual falamos) ajudou a me tranquilizar. Me senti mais presente, mais real e que caso as coisas não deem tão certo, ela poderá sempre me conhecer através dos meus vídeos. 

Parece terrível e que eu estou fazendo um grande caso com uma operação tão pequena. Mas foi isso que senti. Isso somado a outras pequenas questões de saúde que me fizeram questionar o que eu posso estar fazendo de errado com meu corpo. De que forma posso tentar me transformar e melhorar a qualidade de vida. Hipotireoidismo, que não tinha antes. Síndrome de Meniérè, que não tinha antes. Tudo um pouco mais dessa mistura que sou eu. 

Conversei com diversas amigas também mães, que me confessaram terem se sentido assim também em alguns momentos. Que era algo natural que algumas mães passavam e que chega até a ser engraçado, que achamos que vamos morrer por uma farpa no dedo (e se a gente procurar no google, é capaz de encontrar uma história assim mesmo!). 

Nesse misto todo de ansiedades, eu contava para ela coisas íntimas sobre mim e também sobre suas próprias descobertas. Que se arrastava pela casa desde os 5 meses, que de início detestava sentar (afinal, era muito parado, se arrastar era melhor!), que engatinhou quando fez 7 meses, mas que com 6 meses e meio ficava de pé e segurava nas coisas para dar uns passinhos. Aos 8 meses começou a andar com apoio. 

Chegou o dia 12 de novembro e eu fui logo cedo para o hospital da cidade. Como ainda estava amamentando, puderam Kimmo e Cecília ficar comigo até eu realmente entrar para os procedimentos iniciais. Até então não sabia o que realmente aconteceria. Exame e operação? Só exame? 

Depois fiquei sozinha com as enfermeiras que falavam um misto de finlandês e inglês comigo. Eu queria falar finlandês, ams ficava perdida e com medo de entender e fazer algo errado. Enquanto esperava, conheci diversos pacientes. Uns que tinham operado câncer no cérebro, uns aguardando para o mesmo procedimento que eu. Umas pessoas de cabeça meio raspada caminhando e fazendo exercícios. 

Entrei na sala de operação (com aquela roupa de hospital por cima apenas do meu sutiã) e logo vi a maior "tela de TV" que já tinha visto na vida! Era quase um cinema. Era ali que meu cérebro iria aparecer. Ah, como eu queria poder ver aquilo também! Mas logo que colocaram uma máscara em eu rosto com um ar diferente... em 5 segundos eu estava dormindo. Lembro do anestesista se apresentar, segurar a máscara no meu rosto e perguntar como eu me sentia. Eu só respondi "Nossa, isso é incrivelmente rápido". E apaguei. 

Acordei tempos mais tarde com a notícia de que a operação não havia sido feita. Eu estava na sala de recuperação que fiquei após o parto. Houve uma certa decepção neste momento. Eu acreditava que iria acordar já sem aneurisma nenhum e pronta para seguir a vida. Fui para o quarto e fiquei uma noite no hospital. Sem Kimmo. Sem Cecília. Eles vieram me visitar de surpresa (não poderia por causa do COVID-19), mas com ela amamentando (e passando fome em casa, porque se recusava a tomar leite ou comer), eles conseguiram me visitar por meia. Mas dormi sozinha e só pude retornar no final do dia seguinte. 

Como se a operação fosse realizada, eu não poderia carregar peso ( e como não fazer isso com um bebê em casa?), tínhamos conseguido toda a papelada e autorizações para que a minha mãe, a vovó Isabel, viesse lá do Brasil para ajudar. Em meio a toda essa confusão, ela poderia finalmente conhecer a netinha. E ela chegou dois dias depois. 

Antes que eu voltasse para casa, o neurocirurgião veio me explicar mais sobre a craniotomia, sobre os riscos, o método, o prognóstico e tudo mais. E me informou que provavelmente ela seria realizada em três meses, em fevereiro. Passei então a torcer para não estar no hospital justamente no aniversário de 1 ano da minha Mustikka. Mas eu já sabia que se a situação do coronavirus piorasse, esses 3 meses poderiam virar muitos mais. E agora é o jogo da espera novamente. 
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Kimmo e sua mãe fizeram sozinhos a foto das flores. E foi uma das fotos que eu mais gostei! E o mais especial foi voltar pra casa e ver o sorriso e alegria de todos com a minha chegada! 

Contagem regressiva para o aniversário da Mustikka:



Adora ajudar na cozinha













Comentários

  1. Você é uma guerreira e já enfrentou muitas situações adversas. Uma ariana é fortaleza, garra, otimismo. Tudo dará certo. Realmente as fotos do mesaniversario de 9 meses estão lindas. Agradeço a Deus, vc e Juliana a oportunidade de conhecer a Cecília . Você foi sensacional, não escapou nenhum detalhe para eu entrar na Finlândia. Bjs

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