O aeroporto e o livro

O aeroporto 'e um local de sonhos e promessas. Hoje cedo, sentada num dos bancos de Cumbica, abracada a um livro que parecia nao ter muitas pretensoes, mas que iria revelar-se aos poucos, encontrava-me ansiosa. O aeroporto nao estava cheio, e ao terminar o terceiro capitulo do livro, abracei-o com forca e coloquei-me a observar as pessoas a minha volta. Precisava de um tempo para digerir tudo que tinha lido, absorver aquela imensidao de debates e pensamentos. Notei que todos tinham um proposito, e como eu ja afirmei, aquele era um lugar de esperancas, sonhos; o aeroporto e sempre uma escala numa aventura, se viaja de aviao, voce sempre tem que passar por ele e se deparar com um monte de outras pessoas que estao la pelo mesmo motivo; para ir a algum outro local, onde alguma coisa as espera seja para comecar, terminar ou qualquer outro verbo.

Costumam ser sempre locais afastados dos grandes centros, por isso, as pessoas nao o frequentam pelo simples desejo de ve-lo ou passear por ele. Escalonam, ou trabalham, e surpreendeu-me notar como pareciam felizes, como a egregora deste local era fluida e gostosa.

E todos tao entretidos " em seus proprios depois" mal reparavam a garota que os observava atentamente. Alias, mal reparariam qualquer garota que os observassem. Sentia-me bem, voltei a ler o livro com desejo, queria saber o que mais ele me proporia a pensar, o que mais ele me faria descobrir sobre mim mesma, quanto mais eu poderia me surpreender em meus proprios habitos. Parecia uma guerra calada, e eu queria vence-la. A cada capitulo, eu parava, segurava o livro como se fosse minha maior preciosidade e tornava a observar o movimento na Asa C do aeroporto de Cumbica. Ainda teria de esperar horas antes de fazer o check-in na GOL. Nao me importei com o tempo em nenhum momento, o livro me instigava a mais, nao queria mais saber de tempo. Muito tempo seria pouco para que eu me conhecesse melhor, para que aprendesse a conversar comigo e a reconhecer meus defeitos e aceita-los. Muito tempo seria pouco para mim e eu sentia aproveitar cada minuto da manha ensolarada, mesmo que dentro de um estabelecimento fechado. Notei como viajavam bonitas as mocas e como se animavam os funcionarios de bordo ao encontrar seus companheiros no saguao. Malas de todos tamanhos e cores.

Para o check-in nao havia quase fila. Cada guiche tinha sua propria fila, entao eu havia escolhido um em que eu seria a primeira a ser atendida, ninguem parecia impaciente, mesmo que tenha demorado bastante para que os primeiros das filas ao meu lado fossem atentidos. E eu creio que sorria o tempo todo, satisfeita comigo. Sem motivos, so comigo... e o livro. Um funcionario me abordou indagando para onde eu ia, e imediatamente fui transferida para um guiche `a distancia, onde sem nenhuma demora fui atendida. Quando retornava olhei para onde antes havia estado, os primeiros da fila ainda eram os mesmos e acenei para que o senhor que estivera ao meu lado seguisse ao novo guiche. Nao fiquei para ver.

Caminhei mais um pouco, e ajeitando uma cadeira para o vidro que dava para os avioes nacionais que estavam de saida, fiquei a fita-los como uma crianca que desconhece os segredos do mundo. E ao meu lado um menino parecia falar minha lingua. Vi em seus olhos a mesma alegria que tinha nos meus, e ambos pareciamos excitados demais para viajar. Seu pai estava alegre tambem, o que me deixou feliz, tambem parecia achar graca no modo como os avioes formavam fila para seguiradiante;em como eram de diversas cores e faziam todos o mesmo trajeto para a pista. A mae do menino so olhava os dois, imaginei se estaria orgulhosa, feliz, satisfeita. Desejei que sim.

Continuei meu caminho pelo aeroporto, queria um lugar diferente para me deliciar com o livro. Apos rodar um bistro bonito e ser cumprimentada por seus funcionarios, decidi que ali me sentaria. Logo que ele veio me atender descobri que o capuccino beirava os 8 reais e assutei-me, desculpei-me com um sorriso e disse que nao pediria nada, o moco me olhou com gentileza " nao e preciso" ele disse ,e acho que sua frase me deixara tao perplexa que nao fiz mencao de me levantar, fiquei sentada... com o livro no colo. Logo, o moco apareceu novamente com um capuccino grande, chocolate em po, mentinha e oferecendo chantilly, que rejeitei. Estava sem graca. O desejo pelo livro era imenso e minha mente pedia por mais. Permaneci sentada com o capuccino em uma das maos e o livro na outra. Ao terminar mais alguns capitulos segui para o caixa sem que o moco me visse, nao permitiria que ele pagasse por mim. O caixa tambem sorria, parecia de muito bom humor e negou meu pedido, disse que ja haviam tomado conta disso. Insisti. Todos os funcionarios sorriam, pareciam felizes por eu estar ali, sem motivo algum e pareciam ainda mais felizes quando dirigi-me a eles e indiquei o livro que lia " e para quem gosta de pensar". Penso se nao devia ter dito outra coisa " e para quem gosta de encantar os outros", talvez tivesse marcado melhor a ocasiao.

O embarque fora tambem tranquilo, o aeroporto encontrava-se ainda mais vazio que antes e notei qe meu voo nao teria nem metade de suas poltronas ocupadas e mesmo asim ele seria religiosamente realizado. Continuava com o livro, lendo cada capitulo por vez e parando para entender seu significado sobre mim, sobre a vida e o mundo. As vezes tinha que param mesmo sem ter acabado um capitulo, nao tinha folego, era como olhar-se no espelho, ao mesmo tempo que desejava ver quem eu era, tinha medo do que veria. Mas nao hoje, diferentemente de qualquer dia, eu parecia poder aguentar toda nova descoberta sobre mim. Muitas coisas o livro falava sobre mim, outras sobre o funcionamento de outras pessoas e nao o meu, mas eu as compreendia e sabia que mesmo aquela diferenca me ajudaria a entender meu caminho e me relacionar melhor com todos a minha volta. Ser mais feliz.
" Eu era insuportavel ate para mim"
Disse o suicida ao dar-se conta de que protegia um casco que nao era seu eu de verdade.
Durante o voo, eu sorria para as palavras do livro e por vezes ria-me descontroladamente(porem calma) de alguma de suas besteiras verdadeiras. Em um dos momentos notei que era observada pelo homem a minha frente; ele parecia espantado pelo meu riso solitario. Eu olhei para ele e continuei rindo com o livro nas maos e seus olhos escorregaram para o livro e ele riu brevemente comigo. Ate nos momentos mais triste do livro eu queria poder respira-lo e em meu interior requebrava por festa e cortejo.

Cheguei. Foz do Iguacu continua linda e meus pais chineses tinham um sorriso genuino ao me verem chegar de bracos abertos. Nao perdi a felicidade do voo ou do aeroporto, e muito menos a companhia do livro. Mas agora nao estava mais sozinha e ansiava por descobrir-me atraves das pessoas que amo tambem, porque isso tambem e possivel. Nos abracamos, comemos, caminhamos e falamos muitos. Mas por hoje vou permanecer na divagacao dos pensamentos e agradeco a todos que tiveram a paciencia de ler ate o final.

Alguem consegue adivinhar o livro que estou lendo? Fico em duvida se lhes digo agora ou se aguardo um proximo post...
Fecho os olhos... vou aguardar...

Comentários

  1. muito bom teu post.Muito legal teu modo de escrever.
    Gosto daqui. Apareça sempre em meu blog. e muito obrigado pelo comentário.Volto sempre aqui com certeza.
    Tenha um feliz final de semana.;
    Maurizio

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  2. Seria quase impossivel adivinhar qual livro estava lendo, pois ja li e tenho varios que toca nesse tema ou essas coisas que mencionou. Voce vai nos contar, ne? Bjos

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  3. O Livro do post "O vendedor de Sonhos " de Augusto Cury :)

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