Sobre a saída da Avianca


Hoje faz 1 ano de uma data muito importante na minha vida. Uma data que marcou uma nova jornada e que me fez enxergar que agora, esta nova parte da vida era real. Começava (aos poucos) a cair a ficha de que eu iria realmente mudar de país, mudar de vida, mudar de rumo. Que tudo que eu havia batalhado até então era agora parte de uma página virada. 

O Kimmo já havia chegado ao Brasil havia uma semana quando eu tinha meu último compromisso com a Avianca. Tinha de ir à sede da empresa entregar meu crachá, uniformes e assinar ainda alguns documentos finais. Eu estava nervosa. E põe nervosa nisso. Já não voava havia um mês, mas ainda não tinha caído a ficha. Parecia apenas um período de férias. Que eu iria voltar logo pro meu avião vermelho e branco. 

Sentei com a funcionário do RH e conversamos um pouco sobre a companhia, sobre os motivos, meus planos.Ela me desejou sorte e eu entreguei a ela tudo que ainda me restava de Avianca. Ok, quase tudo, porque certas coisas,  esses 2 anos de impacto da vermelhinha nunca vão sair de mim. 

Eu sabia que tinha tomado a decisão certa para mim. No momento certo. Mas isso não diminui a dor de dar adeus a esta empresa que havia me acolhido tão bem durante esses dois anos. O lugar em que eu cresci tanto. Emocional e profissionalmente. Eu, a eterna ansiedade personificada, iniciei na empresa respirando fundo e tentando levar um dia de cada vez. Queria dar meu melhor, honrar todos os compromissos e experienciar tudo que estava por vir. Tive medo. Naquele início, no treinamento e durante os primeiros voos, tudo era novidade e eu sabia que era o caminho certo (como soube na hora de sair). Sabia que conseguiria realizar minhas funções bem e da melhor forma possível, mas estava sempre nervosa. Medo de não acordar, medo de encontrar um chefe de equipe que implicasse comigo por alguma coisa além do meu poder, medo de não fazer um bom trabalho. Mas tudo dava certo, eu aprendia a todo momento com todos ao meu redor e também conseguia contribuir com tudo que podia. E com o tempo, desenvolver todas as atividades bem e rapidamente ficou fácil. Ficou natural e o avião se tornou minha casa, meu ambiente. 

Depois que entreguei todos os pertences, assinei os documentos e saí da empresa pela última vez, fiquei com uma sensação estranha de tristeza, animação, gratidão, incerteza e já saudades. Tudo junto. O Kimmo estava me esperando, sabendo o quão importante tinha sido aquele passo.  Agora, eu estava "livre" para continuar o caminho rumo a Finlândia. Uma das últimas etapas tinha se encerrado. E eu estava pronta pra virar a página. 

Em dezembro, a Avianca Brasil entrou em recuperação judicial. Até meses antes, a empresa estava crescendo, com novas rotas e novas turmas de comissários e pilotos. Eu já estava aqui e foi uma grande surpresa. Apesar de já ter saído da empresa, estar tão longe e já ter seguido com minha vida, foi um choque e fiquei muito triste. Era quase como se estivesse acontecendo comigo também. Ficava muito tempo pensando em como meus amigos estavam se sentindo, na incerteza, na confusão e depois de diversos dias, com o comentário de familiares... na minha sorte de ter saído antes. 

Mas não foi sorte e não me senti assim. Foi o meu momento de seguir em frente. E claro, eu pensei sim em como seria se eu não tivesse tomado a decisão de vir neste momento. Se eu ainda estivesse lá, se tivesse desistido do meu relacionamento para continuar na carreira. Neste momento minha certeza de que as coisas acontecem no seu devido tempo foi reforçada. Que sim, eu tenho que continuar dando meu melhor, batalhando pelo meu caminho e isso me mostrou que posso contar com a minha intuição do que é o melhor caminho. E qual é o meu momento de decidir as coisas. 

Com a empresa nesta situação, salários não estão sendo pagos, compromissos não estão sendo honrados com os funcionários e passageiros e todos os empregos estão na corda bamba, com os dias contados. Por estar longe, meu maior sentimento é de tristeza e olho para meu passado na empresa com mais saudade. É quase como aquela pessoa que faleceu e que eu olho e penso com carinho

Continuo torcendo para a (improvável) recuperação da empresa. Para meus colegas todos conseguirem novas e boas posições e conseguirem seguir seus caminhos, assim como estou seguindo o meu. Que acabe logo essa incerteza.


                                      


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