O incêndio

Sei que sumi bastante do blog, mas devido a alguns acontecimentos, parece que ficou difícil escrever sobre coisas mundanas. Ou mesmo sobre qualquer coisa da minha vida.

Dia 17 de junho (aniversário do meu irmão), o apartamento imediatamente abaixo do nosso pegou fogo. E ficamos presos em casa, em meio àquela fumaça tóxica. Foi um susto muito grande e apesar de tudo ter dado certo e estarmos bem, eu simplesmente não conseguia escrever naturalmente sobre isso. Qualquer palavra parecia banal demais. Simples demais, para o drama que eu estava ainda vivendo aqui dentro.

Era um domingo e na maioria dos domingos, passamos o dia na casa dos pais do meu marido. Jogando jogos de tabuleiro ou cartas e conversando. Costumamos retornar para casa um pouco antes da meia noite, mas naquele dia nossa rotina foi diferente. Minha amiga ía casar no dia seguinte e eu queria fazer um brigadeiro para ela. Acabamos retornando para casa pouco antes das 19h e eu fui fazer brigadeiro (algo que eu realmente só aprendi a fazer quando mudei pra cá!). O Kimmo teve a idéia de levar a Mia para passar a semana com os pais dele, já que eles adoram ela. E ficamos só nós dois em casa, jogando video game juntos na sala. Coisa que não fazíamos a mais de ano.

Comecei a sentir um cheiro leve de fumaça e inicialmente pensei que alguém havia queimado o jantar. Mas era um cheiro mais... presente. Não sei explicar direito, mas resolvemos investigar. Olhei para o vitrô acima da porta e não soube dizer ao certo se ele estava sujo ou se era fumaça. Juntos fomos à porta e ao abrí-la constatamos aquela fumaça leve e quase incolor subindo pelas escadas. Era uma fumaça relativamente quente. Fechamos a porta e corremos colocar mais roupas, sapato/chinelo e molhar toalhas para por no rosto para enfrentarmos a fumaça.

Ouvimos a vizinha de baixo gritar.

Tudo não durou um minuto. E já estávamos prontos, na porta novamente. E ao abrirmos a porta uma segunda vez... a fumaça era densa, escura, quente e tóxica. Kimmo abriu a porta e seu braço sumiu na no pretume da fumaça. Tudo estava muito silencioso, tranquilo. E aquele sentimento de "não vou escapar dessa" iniciou no estômago e foi tomando conta de mim. Parecia irreal. Aquilo realmente estava acontecendo. Não tínhamos mais como descer. Os poucos segundos que paramos para molhar as toalhas e colocar sapato caso o chão estivesse quente tomaram todo o tempo que teríamos. Fechamos a porta às pressas e a fumaça entrava pelo vão. Kimmo correu para ligar para a emergência e eu corri para colocar mais toalha molhada nos vãos das portas. Passei pelo banheiro em direção à cozinha e vinha muita fumaça do banheiro. O chão naquela região já estava todo quente. Estávamos no quinto andar, sem ter como sair. E o fogo com certeza estava no apartamento debaixo.

Kimmo tinha fechado as janelas, pois estava vindo fumaça das janelas do apartamento debaixo direto para as nossas. Mas era impossível ficar preso lá dentro. Abri uma das janelas e veio uma grande leva de fumaça, mas começou a ventar e a fumaça começou a se concentrar apenas na janela do nosso quarto. Naquele dia, horas antes, eu já havia suspeitado de que estava grávida. Tínhamos tentado e tudo indicava que tinha dado certo. Até o momento estava fazendo tudo logicamente, para otimizar nosso tempo e nosso ar. Mas quando me dei conta de que poderia estar grávida... me desesperei.

Fui à janela novamente gritar por socorro, mas a rua estava silenciosa e não havia ninguém por ali. Ficamos aguardando na janela, abraçados, com as toalhas molhadas, o calor do ambiente e a fumaça a nossas costas. Naquele momento pós desespero eu tive a certeza de que realmente estava grávida, algo muito forte me dizia. E finalmente, consegui respirar fundo e me controlar e abraçar meu marido junto à janela, enquanto aguardávamos ajuda.

E então o som mais bonito. O carro de bombeiros chegando. Uma eternidade de poucos minutos para ele chegar. Tudo ainda estava quente, cheio de fumaça e nosso alarme de fumaça já havia disparado. O alarme do andar de baixo (o apartamento que pegou fofo) não disparou em nenhum momento. Foi o Lego, cachorrinho da moça, que a acordou para que ela os salvasse daquela situação. Eu só conseguia pensar em como estava grata da Mia não estar ali. Nenhum bombeiro saberia que ela estava ali, sozinha e assustada. E provavelmente ela teria se refugiado inicialmente na sauna.

Devagar vimos o elevadorzinho dos bombeiros subir em direção a nossa janela e estacionar à nossa frente. Com a ajuda do bombeiro saltamos pro "elevador" e saímos de casa sem nada. Entrei em choque, tentei falar e até fazer vídeos, pois não acreditava que aquilo estava acontecendo conosco. Mas não deu certo.

Eu tremia bastante ainda. Mas estávamos bem. Fomos para a casa dos pais do Kimmo, que nos falaram que já sentiram o cheiro de fumaça vindo do corredor quando nos aproximamos da porta. Tomamos um banho quente e montamos o sofá para dormir.  Permanecemos com eles por um mês, até conseguirmos alugar um novo local. Perdemos cama, travesseiros, sofá, TV e alguns outros aparelhos e o tapete. Nada significativo

Não foi nada, mas ocasionalmente, principalmente se estou ansiosa, ainda tenho pesadelos com o fogo/fumaça. 


Após o resgate, os paramédicos já nos esperavam para exames e também com informações sobre como poderíamos obter ajuda psicológica e um lugar para ficar caso não tivéssemos um lugar para ir. Tudo seria ajeitado. Meu marido ficou encarregado de conversar com eles, pela facilidade do idioma (e por eu estar ainda meio em choque), mas consegui acompanhar tudo que se passava. 

Era minha última semana no curso de finlandês (falarei sobre isso em breve) e tudo foi uma correria e muito estranho. E o susto só foi aliviado quando realmente confirmamos que chegaria um bebê em nossas vidas no próximo ano.

E agora, está tudo bem. 🙂 

Comentários

  1. Ai meu Deus.. me passou todo o filme da situação na cabeça, lágrimas escorreram de alegria aqui. Muito feliz pelo desfecho da situação na qual vocês saíram bem e pelo baby que está vindo. Parabéns! ♥

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    1. Fico feliz que tenha gostado da notícia final! hehehe Foi um susto e uma grande alegria também. Agora a jornada aqui continua!

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  2. Que aventura Nadja!!! Que susto enorme!!!! Graças a Deus vcs não se machucaram. E agora é hora de esperar esse bebê lindo e amado e esquecer o que aconteceu e deixar que o vento leve essa " fumaça"....��������

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    1. Obrigada!!! Foi um susto enorme mesmo! Mas tudo certo agora! :))))

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  3. Obrigada por nos escrever contando sua não agradável experiência e nos fazer sentir a aflição de vcs, como se tivéssemos dentro do texto. Agradeço a Deus vcs estarem bem e pela chegada de nosso bebê.

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  4. 😱 Que susto! E que bom que acabou tudo bem! 🌸☀️

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    1. Susto muito grande mesmo... fiquei em choque por um tempo!!!

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  5. Nossa Nadja, que situação difícil de se enfrentar... Mas o mais importante é que estão bem, os danos materiais não são nada perto da preciosidade da vida e agora você carrega uma outra vida dentro de você! Parabéns!!!

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  6. Boa tarde

    Foi um grande livramento de Deus para você e seu esposo, parabéns pelo bebê. Bjs

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  7. Oi Nadja, que situação mais horrível! Fiquei surpresa com sua visita lá no blog...puxa, você tinha sumido...e está na Finlândia!?!?! Quantas mudanças na sua vida!!!! Depois vou me colocar a par aqui de tudo! Que bom tê-la de volta no blog. Espero agora que continue contando as novidades até o bebê chegar! Parabéns!!!! Felicidade e saúde pra vocês!!!! Bjs e até mais.

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  8. Nadja do céu!!! Li o seu post com o coração na mão! Não consigo nem imaginar o que você passou! Graças a Deus vocês não se machucaram e está processando o que aconteceu contigo!
    Parabéns pelo bebê uma nova etapa na sua vida cheia de desafios e alegrias!

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  9. Querida, que tenso! Espero que esteja melhor e feliz saber que Deus guardou vocês! Espero que seu bebê esteja bem. Volte para nos contar como foi a mudança para um novo lugar. Feliz que nada significativo foi perdido. Louvado seja Deus!

    Grande abraço!

    www.vivendolaforanoseua.blogspot.com

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