E quando nao tem trabalho?



Esperança  

Revendo meus antigos posts, percebi que pouco falo sobre meu trabalho. Reservo este espaço mais para meus pensamentos,minhas experiências e recordações. Mas nesta época de coronavirus, parece não ser possível separar muito dessa ansiedade que sinto do que acontece no trabalho. Ou do que nãoacontece!

Trabalho como agente e conselheira de au pairs na Holanda. Exerço esse trabalho desde julho de 2011 (uau 9 anos!). É uma micro empresa, onde sou representante independente de uma empresa de intercâmbio de au pair. Apesar detrabalhar com diversas nacionalidades (em especial da América Latina), meu maior número de clientes/embarques vem do Brasil. 

Com a constante alta do euro dos últimos anos, o volume de interessadas no programa diminuiu. Não vou entrar em detalhes, pois este não é um post de promoção do programa de au pair ou do que faço para a agência. É apenas um desabafo da minha situação atual. 

Nosso ano é sempre bem movimentado. Com au pairs de todos os locais do Brasil, se registrando na agência seja para encontrar uma família conosco ou já com um match com uma host family holandesa. Passei fevereiro e março afastada do trabalho, após o nascimento da Päivikki Cecilia. Retornei no final de março, em meio à confusão gerada pelo coronavirus. A Europa havia fechado as portas para o turismo e a Holanda havia fechado suas embaixadas e consulados mundo afora, cancelando todos os agendamentos já existentes. 

Quase imediatamente meus ganhos desapareceram. Continuava trabalhando, dando suporte às minhas au pairs, dedicando tempo às que ainda estavam aguardando novidades do consulado e também a futuras au pairs que desejavam informação para o futuro. Au pairs e famílias também passando por quarentenas, crianças que não vão para escola. Rotina que muda e estresse que cresce. 

Nós havíamos mudado para um novo local, acreditando que as coisas não ficariam tão difíceis. O apartamento antigo estava inviável de morar com um bebê. Além de pequeno e de escadas (triste rotina com carrinho de bebê), eu tinha constantes momentos de medo e trauma em relação ao incêndio. Achava que onde morávamos não era tão seguro, não era fácil abrir as janelas caso a casa enchesse de fumaça e não havia onde eu pudesse refugiar a mim e a minha bebê. Qualquer cheirinho de queimado, me lançava numa espiral de ansiedade. Que eu tentava acalmar com exercícios de respiração. 

Então em meio à pandemia, mudamos. Quando a decisão de mudar foi feita, a situação na Europa já parecia estar melhorando e esperávamos que o Brasil seguisse o mesmo caminho. Mas tudo foi bem diferente. Foram (ainda são) meses sem ganhos, meses trabalhando sem saber ao certo quando que eu voltaria a contribuir com a nossa casa. E em julho, tive uma grande crise ansiedade desencadeada por toda essa incerteza. Sei que não fui a única a ter sua situação profissional balançada (ou totalmente esmagada) e também não fui a única a lidar com crises de ansiedade devido a isso.

Mas toda essa situação me fez repensar todo esse caminho. Todo esse poder que eu dou ao meu trabalho. Meu trabalho, meu profissionalismo, minha identidade profissional eram tudo que eu era. Notei o quanto isso era nocivo, o quanto de mim dependia do meu sucesso profissional e financeiro. E o quanto minha família perdia com isso. E eu, minha própria sanidade e bem estar. 

Então aproveitei esse tempo para fazer uma reavaliação (e uma desintoxicação). Aos poucos tentando me libertar de algumas amarras, do que não me fazia feliz e me reestabelecer como uma pessoa inteira, independente do emprego, dos hobbies, da localização. Eu, comigo e com minha família. 

E assim que senti que começava a me reencontrar, a dar um novo valor a quem eu sou (nesses momentos de calmaria), as coisas começaram a se movimentar novamente. Longe do normal, mas dando sinais de vida. E agora acho que consigo seguir, sabendo que um trabalho, um emprego e dinheiro não me definem mais. 

Comentários

  1. Lindo esse processo de desacelerar! Eu passei por isso quando cheguei na Finlandia e me dar conta, nao foi tao obvio mas super valeu o reecontro comigo. Ainda estou aprendendo a redifinir meus passos mas já me pego vendo os sinais de para e repensar. Pense num processo. Parabéns!

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  2. Nadja, você vem de uma realidade de muitos. Trabalho, dinheiro e sucesso definem. É assim, infelizmente. Somos escolhidos por nossas funções e não pelo que somos. Lógico que dinheiro é importante, conforto, realização profissional...mas às vezes nem tanto...há papeis muito mais importantes a serem desempenhados na vida de uma pessoa. Há muitas possibilidades e elas se fazem de acordo com as necessidades. Acredito que hoje suas necessidades mudaram...e com certeza você tem outras prioridades: o de ser feliz seja lá fazendo o que for! Bjs

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  3. O trabalho faz parte da nossa identidade, ao menos para a maioria de nós. Para mim está sendo muito difícil, fiquei 2 meses parada na primavera, e agora de novo. Dá um baque saber que o que faço é "não essencial". E o clima de instabilidade. Certezas de ontem são hoje incertezas. Difícil de fazer novos projetos.

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  4. Oi Nadja, acho que 2020 fortaleceu muita gente, foi um ano em que tivemos tempo para autorreflexão e autoconhecimento também. Interessante saber que você vem trabalhando com Au Pairs por quase uma década, não sei se você vai lembrar do meu blog, mas costumava receber visitas suas enquanto era uma Au Pair nos EUA no meu blog, que está completando 10 anos este mês, não consigo deixar a blogsfera! Bjs e feliz 2021!

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