"Nas primeiras horas da manhã"

 


Em junho de 2007 eu não estava em uma boa época. Foi quando os sinais da depressão e da síndrome do pânico não puderam mais ser ignorados. E foi também quando escrevi um conto do qual tenho bastante carinho. 

Eu sempre gostei de escrever. Quando criança, passava horas criando histórias e personagens. Durante as aulas não fazia outra coisa. Mas não tinha problema, eu continuava tirando boas notas, mesmo perdida em todos os tipos de mundos literários. Eu também lia o tempo todo. Estava sempre com um livro na mão, mesmo ao caminhar na rua. Já quase bati em poste ou em lata de lixo, apesar de normalmente conseguir prestar atenção por onde ía. 

Iniciei diversos contos, livros e outras coisas. Mas nunca dei seguimento a nada. Não conseguia. A empolgação que tinha ao iniciar o trabalho desaparecia depois de um tempo e eu começava a achar tudo que havia escrito uma verdadeira droga. O amor que tinha pela minha criação se transformava em decepção. E eu passava a duvidar da minha capacidade. A vida toda foi assim.

Eu achava que o verdadeiro escritor era aquele que tinha "o dom"! Que sentava e escrevia sem parar e depois respirava aquele ar de "obra-prima", após o trabalho concluído. Pois era assim que me sentia em todo início de criação. A criatividade fluída, a inspiração, o lápis trabalhando sem parar. Eu nunca havia entendido que a inspiração, o criar e escrever são só a primeira etapa. E que há muito trabalho por trás de cada livro.

E eu não falo de pesquisa de época histórica ou geografia local para embasar o conteúdo. Falo de revisão, de releitura, de entrar na história e reescrever, reorganizar capítulos, reinventar personagens e enredos. Um constante mar de atividade mental. Tudo que faz o tal "dom" virar uma obra. Isso é uma descoberta recente. E eu pretendo dar seguimento a ela e perseverar quando minha auto sabotagem se instalar e eu passar a duvidar de mim. Aos poucos substituo o "dom" por "esforço e dedicação". 

Mas em 2007 eu ainda estava muito longe de entender tudo isso. E achava que eram apenas os sentimentos extremos que me faziam escrever bem. E quando a depressão passou a se instalar e eu me fechei para o mundo, abri na escrita um escape. E assim nasceu esse conto, "Nas primeiras horas da manhã". Lembro de lê-lo em voz alta após escrito. Segurando firmemente os papéis em que havia escrito a lápis (hoje quase sumindo). Lembro do orgulho e do amor por mim mesma. Numa época tão ruim, foi um texto que me fez ver que eu poderia sair daquilo sozinha. Que eu poderia criar minha própria cura. Mas foi-se ainda muito tempo para que eu realmente pudesse fazer isso. E para que enxergasse que eu poderia vencer a auto sabotagem. Mas é um exercício diário. 

Fico feliz de finalmente ter a coragem de publicar um texto de minha autoria. Um texto tão antigo que quase nunca viu outros olhos a não ser os meus. Assim como todos meus outros textos. Sempre cheios de vida, mas fechados em uma "caixa de contos". Mas aos poucos, quem sabe, irei publicando os demais textos que tenho comigo (trouxe uma caixa cheinha quando mudei pra Finlândia!!!). 

Então apesar daquele momento sombrio, nunca associei esse texto aos sentimento que deu fruto a ele. 

E  quase treze anos depois de tê-lo escrito, tomei coragem de publicá-lo. Um lembrete de que um texto, uma inspiração são só partes da jornada. São apenas capítulos no meu livro da vida. 

Aqui segue o link para você ler meu texto e dar uma forcinha. 

https://www.wattpad.com/story/262906613-nas-primeiras-horas-da-manh%C3%A3

"Nas primeiras horas da manhã" 

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