A cirurgia para tratar o aneurisma

 
Chegou o momento de falar da minha cirurgia.
No dia 3 de maio de 2021, eu finalmente caminhei ao hospital universitário de Tampere para o procedimento que iria tratar o aneurisma em meu cérebro. Hoje fazem dois anos desta experiência. 

Diferente dos meses anteriores, eu não estava com medo. Estava animada e queria logo que isso tudo acabasse e eu pudesse seguir com a minha vida. 

Imaginava que seria rápido e após a cirurgia seria só aguardar um pouco e eu estaria bem. Como nova! havia conversado com algumas pessoas que tinham conhecidos que passaram pelo mesmo procedimento (ou procedimentos parecidos) e a recuperação havia sido tranquila e rápida. Mas a minha não foi exatamente assim. 

Cheguei ao hospital bem cedo, com o Kimmo como acompanhante. Fizemos meu registro e nos encaminhamos para a sala de espera, onde outras famílias esperavam também pelos seus procedimentos. Havia gente de diversas idades e jeitos possíveis. Mas aparentemente eu era a pessoa mais nova a aguardar ali. A maioria já estava em seus "trajes de paciente" e a minha enfermeira corria para lá e para cá selecionando roupas do meu tamanho e me instruindo a como colocá-las corretamente.

Logo fui encaminhada para a sala de operação e recebi a anestesia que me colocou para dormir. Duas horas e pouco mais tarde, acordei na UTI, sendo cuidada por dois enfermeiros bem carinhosos, que me informaram que tudo tinha corrido bem.

A UTI era uma sala grande com quatro divisórias onde ficavam os pacientes. Cada divisória permitia um paciente e um enfermeiro encarregado. O ambiente era confortável e a luz não era muito forte. Minha cama ficava no centro da minha divisória e ao lado os equipamentos que me monitoravam. Ao pé da cama havia a mesinha com o computador do enfermeiro responsável por mim. E ali ele colocava todas as informações relevantes ao meu caso. Muitos outros enfermeiros ficavam pela sala auxiliando. Entre as divisórias havia um corredor com mais equipamentos e computadores

No primeiro dia eu não pude comer ou beber nada, e qualquer coisa me fazia vomitar. As enfermeiras me trouxeram um pequeno frasco com um pano úmido para meus lábios. E me davam água aos pouquinhos. Tudo que eu precisei eles trouxeram, de manteiga de cacau a máscara para os olhos e tampões para os ouvidos. 

A estadia na UTI poderia ter sido fácil e simples, mas eles precisavam me acordar a cada 60 minutos para verificar meus sinais vitais. E foi assim por 24 horas. A cada vez, eles pediam que eu apertasse sua mão, mexesse o pé e o pior, colocavam a lanterna nos meus olhos. Tudo bem. 

No dia seguinte fui transferida ao quarto, onde passaria mais uns dias antes de ir para casa. O quarto era comprido e haviam três camas nele. Fiquei com a mais próxima da janela. De início eu estava sozinha e podia tentar descansar melhor. Ainda vomitava bastante e tinha muitas dores. Logo duas colegas de quarto chegaram, duas senhoras. Não cheguei a ter problemas com nenhuma delas, mas passei a não conseguir descansar visto que a senhora que estava na cama do meio deixava o rádio ligado 24h por dia ao lado da cama. Escutando música, sem fone de ouvido. Também falava alto no celular. A outra senhora roncava bastante, e eu não conseguia reclamar ou pedir para que a senhora falasse mais baixo. 

Isso é algo que sempre batalho comigo. Detesto incomodar e não queria reclamar ou falar nada. Existe também o problema do idioma. Eu ainda não conseguia me expressar exatamente como queria em finlandês e eu já tinha percebido que ali ninguém falava inglês. Mas passou, deu certo. Descansei como pude. 

Em casa, Cecilia estava deprimida. Me procurava logo de manhã e não queria nem brincar. Ficava andando ao redor da cama, desanimada e até deitou no chão do banheiro quando Kimmo estava lá. Após uns dias, eles já puderam me visitar no hospital. Uma vez ao dia. E somente porque ela era bem pequena e ainda mamava, pois ainda estávamos no auge da pandemia e haviam muitas restrições quanto a visitas. 


A recuperação foi mais longa do que esperava. Antes da cirurgia, conversei com diversas pessoas que conheciam gente que já tinha passado por isso. Todas as histórias eram de sucesso "após um mês, já estava correndo novamente e competindo" "voltou a fazer tudo que fazia antes". Histórias muito inspiradoras que me aliviaram o medo. Mas o que todas tinham em comum era que suas histórias pulavam a recuperação em si. A dor, as dificuldades, os sintomas, o passo a passo. E eu realmente não sabia o que esperar. Fraqueza demorou quase dois meses para aliviar. Vomitei todos os dias por mais de uma semana, tive dores de cabeça fortes (que ocasionalmente ainda perduram, mais de um ano depois), sensação super estranha de formigamento por toda a cabeça e não somente na área da cicatriz. 

Mas passou. Fui melhorando, recuperando minha energia, sentindo menos dor e a região do formigamento diminuindo a cada mês. O cabelo, que havia sido raspado para o procedimento, cresceu bem rápido. Tenho uma falha no cabelo, do tamanho de uma unha, que ficou como consequência do corte. 

Como comentei acima, ainda tenho dores de cabeça (que parecem câimbras somente de um lado) e um sensação de sensibilidade na área. Mas dois anos após essa experiência, posso dizer que continuo melhorando. Descobri recentemente a fisioterapia, que tem ajudado com essas dores, já que os músculos locais foram traumatizados devido à cirurgia e estavam ainda mais do que nunca tensionando a qualquer sinal recebido. 

Pouco a pouco. Dia a dia. Todo dia um motivo para celebrar.





Comentários

  1. Que bom que vc está bem!

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  2. Nossa Nadja..realmente foi um processo de superaçao! Imagino que com a Cecilia tenha ficado bem mais dificil.
    Mas que bom que no fim deu tudo certo! Infelizmente nao conseguimos ter controle sobre muitas coisas..mas você fez o que estava a seu alcance, enfrentou e batalhou!
    Agora é viver um dia de cada vez mesmo e usar essa trajetoria para te ajudar cada vez mais nos desafios da vida! Se cuida! Um beijo!
    Vanessa

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  3. Muito obrigada por seu depoimento. Com certeza ajudará outros que passarão pela mesma experiência. Eu sinto muito orgulho por ver sua trajetória vitoriosa e como você superou tudo com força e determinação.

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  4. Querida, feliz que tudo ocorreu bem! Graças a Deus! Beijos!!!

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