Cozinhando na Finlândia

Já vou começar dizendo que sempre detestei cozinhar. As poucas vezes que cozinhava, tudo ficava ruim. E eu ficava irritada. Era mais uma tortura que uma atividade necessária ao dia a dia. E eu era a rainha do comer fora.

Além de não cozinhar bem, não comia bem. Só comia besteira e praticamente cresci assim. Meus pais tinham o péssimo hábito de nos deixar comer uma cumbuquinha de batata frita que já estivesse pronta para matar nossa vontade enquanto o restante da comida não ficasse pronta. Era o suficiente para encher a pança e não aceitar os alimentos mais... difíceis. Como verduras e legumes. Verduras e legumes? Só na sopa. E batidinha, creme! (Ok, eu amo sopa assim até hoje!). De resto, era pão, batata, arroz e feijão e bife.

Morar sozinha não ajudou. Podia viver um tempo de miojo e como cozinhava só para mim não ligava de ficar a comida ruim (e realmente ficava ruim). Até o arroz saía ou cru ou papa ou queimado. Era nuggets, batata frita de forno e arroz. E as vezes uma saladinha para acompanhar. Nunca tive tendência a engordar, então para que procurar comer bem?

E então embarquei na jornada de ser au pair na Holanda. E uma das minhas responsabilidades era cozinhar para a host family. Para todos! Crianças, pais e eu! Foi uma aventura. De início meus hosts queriam que eu preparasse refeições bem elaboradas e difíceis. E eu mal conseguia seguir a receita. Então entramos num acordo e eu passei a cozinhar coisas mais simples e básicas e tudo deu certo.  Mas ainda não gostava.

Era bem mais fácil cozinhar na Holanda. Mais rapidinho, tudo já quase semi pronto, o que me relaxava um pouco dessa tarefa que eu achava tão desgastante.

Ao retornar ao Brasil, achei que continuaria evoluindo na cozinha. Mas voltei a detestar (com ainda mais força) e parecia que a maneira que eu tinha aprendido a cozinhar (o arroz por exemplo) não funcionava no Brasil. Eu tinha conseguido aprender a fazer arroz na Holanda, ficava até mesmo gostoso. E no Brasil... não consegui mais acertar nenhum. Quando trabalhava, chegava muito cansada para ainda ter que pensar no que fazer e eu nunca sabia quais ingredientes usar, então, nunca tinha nada em casa. Voltei para o arroz, nuggets e ovo. Mas agora tinha uma novidade... aquele meu super poder de não engordar mesmo comendo besteira deixou de funcionar... A balança começou a gritar comigo. E eu ainda não sabendo comer mais saudável. 


Quando comecei a voar, e a conhecer diversos cantos do Brasil e diversas comidas também notei que realmente passei a comer de tudo. Experimentar de tudo, não torcer o nariz para legumes e verduras, testar novos sabores saudáveis (e outros nem tanto).

E vim para a Finlândia. Onde moro com meu marido, que também não gosta de cozinhar. Mas diferente de mim, ele não liga para isso e vai pra cozinha na pura coragem. Na primeira vez que vim visitar, em novembro do ano passado, eu tentei fazer uma surpresa e preparar um arroz brasileiro com frango e farofa para ele. Minha amiga tinha me ensinado a fazer o nosso arroz neste fogão de chapa. Passei no supermercado me sentindo toda determinada e poderosa e comprei alho, cebola e azeite. Cheguei em casa, preparei o alho e a cebola e refoguei na única panela da casa. Coloquei o arroz. Fritei um pouquinho e coloquei a água. E... o sal? Cadê o sal? Kimmo não tinha sal em casa. Nada. Coloquei curry... vai que ajuda, né?

A água ferveu e era hora de trocar a panela de chapa (para uma menos quente) e deixá-la semi tampada. Ok. Hum... ué? A panela não tinha tampa. Eu já havia iniciado o franguinho na frigideira e esperei terminar para usar a própria frigideira de tampa. Quase sentei e chorei, tudo um desastre. Escrevi ao Kimmo perguntando sobre o sal, a tampa, etc etc. Quando já estava tudo... "pronto" ele chegou em casa. Com uma nova panela (com tampa) e com o sal. Talvez na próxima eu poderia acertar na comida.

Então me mudei de vez e me deparei com a necessidade de encarar a cozinha novamente. E de verdade. Minha amiga Tati passou quase 2 meses conosco e me ensinou técnicas de cozinha. Temperos, sabores, inventividade. Acho que a alegria dela em cozinhar e testar novos sabores nos contagiou e começamos a arriscar mais. E a reclamar menos. Hoje já não acho um desastre ter que ir pra cozinha. Hoje já consigo enxergar um pouco de prazer em elaborar alguns pratinhos. E tem sido divertido. Ainda acho mais simples do que cozinhar no Brasil. As comidas são mais fáceis, tem menos necessidade de limpar (tem mais produtos já prontos disponíveis). O que é ótimo para mim, a eterna mulher da pouca paciência. 


Não tem tanto segredo e eu não tenho mais tanto medo. Já fizemos sopas, frango, arroz, até uma tentativa de feijão. E tudo sem medo e sem irritação (ai, esse é o quesito principal!). Foi só terminar este texto que meu jantar de ontem não ficou exatamente como eu tinha imaginado... Eu descobri um jeito de não fazer frango!!! 

Comentários

  1. Devia ter aprendido mais com seu pai - rs rs rs rs rs rs

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  2. Ai querida, cozinhar pode ser desafiador para quem não se identifica, mas estou feliz em saber que as coisas estão se encaixando pra vc! Beijos!

    www.vivendolaforanoseua.blogspot.com

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