A primeira visita à neuvola

A Neuvola é uma espécie de enfermeira obstétrica (isso existe?) que temos aqui na Finlândia. É ela quem acompanha a gravidez, é com ela que eu me consulta na maioria das vezes e normalmente é ela também que faz o intermédio entre eu e a médica.

Assim que eu soube que estava grávida, liguei no número da clínica de maternidade da minha região para marcar minha primeira consulta com a neuvola. Foi quase difícil marcar a consulta. A clínica estava aberta para receber as ligações para marcar o horário apenas de segunda a quinta-feira, das 12h as 13h. Somente uma hora por dia. No primeiro dia, liguei diversas vezes e estava sempre ocupado. No segundo, consegui após meia hora. E nossa ligação durou mais ou menos meia hora também.

Logo nesta ligação, recebi o nome da neuvola que me acompanharia durante toda a gravidez. Mas por ser verão, ela estava de férias e eles haviam disponibilizado uma substituta para a primeira consulta. Ok, perfeito!

Eu tinha acabado de descobrir, estava bem no começo e ainda teria que esperar entre 3 a 4 semanas para a primeira consulta, lá entre as semanas 8 e 9 da gravidez. Que ansiedade esperar até lá! Eu queria logo uma confirmação da gravidez e de que estava tudo OK.

Dois dias depois recebi uma ligação da neuvola, informando que uns exames que eu havia feito um mês antes de engravidar, enquanto bons para uma mulher não grávida, não era bons na gravidez. Eram os hormônios da tireóide. Fui encaminhada para um novo exame, poucos dias antes da consulta com a neuvola. E durante a consulta, discutiríamos o que poderia ser feito.

Antes da consulta, eu havia recebido um e-mail com um login e senha de acesso para um website/app do pré natal, chamado Ipana. Nele, eu já havia preenchido os questionários obrigatórios e diversos outros dados. Eram perguntas sobre meus hábitos alimentares, sedentarismo, outros costumes e estilo de vida. Também haviam perguntas sobre minha relação com meu companheiro/companheira e espaço para denúncias de abuso, se necessário. Um outro formulário tratava do meu estado mental e emocional e ainda um outro sobre medo do parto e de tudo relacionado a este evento tão marcante na vida de uma gestante.

O site também conta com um fórum, onde mães (e pais) podem escrever suas dúvidas e serem auxiliados por outros pais também. E até fazerem amizade, afinal, todos moramos relativamente perto. O problema deste fórum é estar somente em finlandês, o que torna um pouco cansativo acompanhar as discussões.

Eu também havia já recebido um monte de exames para fazer antes de ir à consulta. Então uns dias antes, fui ao laboratório tirar um monte de tubinho de sangue! Um monte! Não acabava nunca!

Dia da consulta chegou (pouco mais de um mês após o incêndio) e fomos eu e o Kimmo conhecer a neuvola. E como funcionaria o pré-natal na Finlândia. Chegamos bem cedinho e ficamos esperando sermos chamados. Pontualmente fomos chamados e ela averiguou meus sinais vitais e outros dados (peso, altura, etc), fizemos alguns exames de hemoglobina no sangue e proteína na urina. Durante toda a consulta eu fiquei esperando que ela me confirmasse que eu estava realmente grávida. Que o exame de urina também servisse pra isso. Ou que fosse realizado algum exame de sangue. Ou que escutássemos o coração do bebê. Qualquer coisa!

Mas não houve nada disso. Nada de confirmação. Ela aceitou minha palavra de que eu tinha feito o teste de farmácia e começou a me informar sobre os procedimentos e a me perguntar sobre como eu estava me sentindo. Como esta era a neuvola substituta, notei que ela não falava um inglês tão bom e fiquei feliz que meu marido estava comigo para podermos ficar alternando entre todos os idiomas. Eu conseguia entender o finlandês dela, mas não teria nenhuma confiança se estivesse sozinha lá com ela.

Ela tirou todas as minhas dúvidas ( e eram muitas!) e a consulta durou quase 2 horas. Tratamos da minha saúde, da saúde do Kimmo, quais exames ainda teria que fazer e informamos que iríamos ao Brasil por duas semanas dali a pouco menos de um mês. Estaríamos no Brasil dentro do período que o primeiro ultrassom deveria ser feito. Então a neuvola marcou nosso ultrassom para o último dia possível (para estar dentro das semanas do primeiro trimestre), que seria dois dias após nosso retorno à Finlândia.

Nesta data, o Kimmo estaria viajando a trabalho e então decidimos realizar um ultrassom particular no Brasil, só para vermos juntos as primeiras imagens do nosso baby.

Nesta consulta, a neuvola também comentou que meus resultados dos exames de tireóide não estavam bons mesmos e que o médico iria me receitar um remédio para tomar antes do café da manhã. Então, mais tarde naquele dia, fui à farmácia (sem a receita) pegar meu remédio. Dei ao atendente meu cartão do "SUS" finlandês (que se chama KELA) e nos sistema eles acharam a receita e me entregaram o remédio. Pronto!

Agora, poderíamos pensar no próximo passo da jornada. A mudança para um apartamento temporário, já que não poderíamos retornar para o apartamento antigo, por causa dos estragos feitos pelo fogo e fumaça.