20 semanas de gravidez e a possibilidade de trissomia 18

Com 20 semanas de gravidez tivemos nosso segundo ultrassom na Finlândia. E foi aqui que minha gravidez passou a ser acompanhada de bem mais perto e com mais cuidado. Kimmo pôde ir comigo, o que me deixou muito tranquila em relação ao idioma e ao que pudesse ser tratado lá. A médica que nos atendeu era a mesma da última vez, uma russa que não falava inglês muito bem.

Comentei nos últimos posts que a médica havia nos dito que o bebê estava medindo 5 dias atrasado em relação à idade gestacional esperada. Assim que ela iniciou e as imagens apareceram, vimos nosso pequeno bebê se movendo. A médica realizou todas as medidas necessárias e mais algumas outras e comentou que desta vez o bebê estava medindo 11 dias atrasado para 20 semanas de gestação. O que antes elas suspeitavam que a data da minha ovulação havia sido após o que eu imaginava, agora elas sabiam que não era esse o motivo da diferença.

Nas imagens, também foram detectados cistos de plexo coróides no cérebro do bebê. Ficamos assustados. A médica realizou mais medidas, concentrando no funcionamento do coração e no formato dos membros e nos indicou um novo ultrassom, na semana seguinte. Ela nos acalmou que esses cistos são ocorrências bem comuns e que desapareceriam em breve, antes do nascimento. Os cistos não pareciam preocupá-la tanto, mas o tamanho do nosso bebê, sim. Estava medindo abaixo de 5% na escala de referência de peso fetal.



Na semana seguinte estávamos de volta à clínica para o novo ultrassom. O nosso quarto ultrassom no total. O primeiro da sessão de extras que tivemos durante a gravidez. Eu estava nervosa, realizar um ultrassom apenas uma semana após o de 20 semanas não é algo comum por aqui. Eles queriam acompanhar o crescimento (ou a falta de) do nosso bebê. Se estava desenvolvendo conforme o esperado. 

Inocentemente eu fiquei imaginando que quando as imagens aparecessem na tela, não veríamos mais os cistos. Que uma semana teria sido suficiente para que eles sumissem. Mas eles ainda estavam lá. O tamanho continuava o mesmo. Era um bebê pequeno, eles afirmavam. Mas era também um bebê proporcional, com o funcionamento do coração dentro do esperado e com o desenvolvimento de todas as outras partes também dentro do esperado. E foi neste dia que a médica especialista nos comunicou que o tamanho e os cistos juntos poderiam ser indicativos de trissomia 18, a síndrome de Edwards

A síndrome de Edwards é causada por uma cópia extra do cromossomo 18. Diversas partes do corpo do bebê são afetadas pela doença, especialmente o coração e membros. Geralmente o crescimento do feto é devagar e são bebês relativamente pequenos. Ao pesquisar sobre o assunto encontrei que aproximadamente 95% das gestações terminam em abortos espontâneos ou natimortos. E dos bebês nascidos vivos, mais da metade não sobrevive ao primeiro aniversário. Problemas na formação do coração, dos pulmões e rins entre outras coisas são os responsáveis por isso.

Novo ultrassom marcado para uma semana e meia mais tarde. No hospital referência da cidade, o Tays. Fomos recebidos com atraso por duas médicas maravilhosas. Elas sorriam e nos deixavam mais tranquilos diante daquela situação. Nos informaram de todos os procedimentos e o que estava procurando no ultrassom e nas medidas do bebê e quais os possíveis desfechos também. 

E após todas as informações passadas, ela nos ofereceu a amniosintese. Um exame mais invasivo em que uma agulha é inserida no útero para retirar um pouco de líquido amniótico para análise. Esse é o único teste que pode garantir o diagnóstico. Esse teste não é sem riscos, cerca de 1% das gestações sofrem aborto espontâneo em virtude dele. Ela nos informou que teríamos que decidir se realizaríamos o teste em no máximo uma semana, pois caso o resultado fosse positivo para trissomia 18, a data máximo para a realização de um aborto (caso desejássemos) era com 24 semanas (estávamos na 22a semana). Ela se afastou e nos deu espaço para conversarmos e discutirmos as possibilidades. 

As chances do resultado ser positivo para a síndrome eram pequenas, mas existiam. E desde o último ultrassom, quando nos informaram dessa possibilidade, eu mal conseguia dormir. Pensando no desfecho disso tudo, nos por quês, no que eu poderia ter feito diferente (nada!). O estresse que eu estava vivendo internamente era tão grande que decidimos por realizar a amniosintese. Eu pensava a todo tempo que todo aquele estresse se transformava em hormônios negativos que eram enviados ao meu bebê. Com o resultado em mente, poderíamos nos preparar. Ou respirar aliviados que nosso bebê não sofre com a trissomia 18 ou nos preparar para uma gravidez mais difícil e para o que viesse após o nascimento. Nem precisamos discutir, sabíamos que não iríamos com o aborto. Isso foi também algo que me fez pensar, que a decisão de seguir ou não naquele momento era nossa (minha). Aqui muita ênfase é colocada no bem estar da mãe, seja físico ou mental e que cada pessoa lida com as situações de uma forma diferente.

O exame foi realizado naquele momento mesmo. Após uma preparação da área, seguimos acompanhando o bebê se mover em seu ambiente aquático enquanto ela se preparava para me espetar com aquela agulha no momento oportuno. Quando o bebê não oferecesse risco ao procedimento e a si mesmo. Tivemos que aguardar um pouco, nosso baby sempre foi muito ativo. Mas logo a agulha tinha sido inserida e ajeitada (essa parte foi bem desconfortável). Kimmo segurava minhas mãos e me dava beijos na testa enquanto eu tentava realizar respirações ritmadas para me acalmar (hypnobirthing). Vi o líquido amniótico saindo. E depois mais. E ainda mais. E perguntei se iria sobrar alguma coisa pro bebê lá dentro hehehe. Parecia que tudo que tinha de reserva no útero tinha sido extraído naquele momento.

Realizamos também outros exames genéticos (eu e o Kimmo também) que serviriam para comparar com os dados genéticos do bebê para futuros estudos em desenvolvimento no hospital universitário (o Tays). Kimmo tem duas condições genéticas que poderiam ser passadas ao nosso bebê (cardiomiopatia hipertrófica e hemacromatose). Os exames para essas condições seriam realizados mesmo somente após o nascimento. 


O resultado sairia em dois dias. E nesses dois dias eu deveria descansar e não carregar peso, não me estressar (huuum... como?) e tentar levar a vida de forma mais devagar. No dia seguinte a tarde recebi a ligação da médica. Ela estava surpresa que os resultados haviam saído tão rápido. Seu tom de voz era feliz e relaxado e então antes que ela confirmasse, eu já sabia que estava tudo bem. Eu tinha sentido internamente que estava tudo bem, um momento de calma logo após o exame, quando estava sentada no ônibus a caminho de casa, sozinha (Kimmo tinha ido para o trabalho). Como se o bebê estivesse se comunicando diretamente comigo. Ainda assim o alívio foi enorme. 

O crescimento devagar do feto e os cistos não foram explicados. Mas o hospital agendou novo ultrassom para dali a duas semanas para acompanhar o desenvolvimento e crescimento fetal. Eles preferem pecar pelo excesso de exames e acompanhamento. Mas sempre tentando nos acalmar que tudo provavelmente estaria bem. Mas ter tantos exames num país em que quando se está tudo realmente bem, os ultra-sons são apenas os mínimos necessários, era sim um pouco preocupante. Mas pelo lado positivo, veríamos nosso baby em breve novamente. :)

Comentários

  1. Parabéns pelo relato tão detalhado e comovedor! A gente percebe toda a aflição por qual passaram vc e o Kimmo. Realmente não foi uma gestação tranquila, mas o mais importante é que nossa Mirtilo chegou bem.

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  2. Nossa Nadja, que impacto tudo isso. Felizmente, vocês foram bem orientados e tiveram apoio e tranquilidade. Que bom que deu tudo certo.

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    1. Sim, o apoio recebido pelos médicos e toda a informação dada e também espaco para decidirmos e conversarmos, fez toda a diferença nessa situacão.

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  3. Que sufoco vcs passaram Nadja, nunca imaginei que fosse assim tão preocupante. Graças a Deus tudo passou, e ela tá aí cheia de saúde e graça linda e perfeita. Abraços

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