Coronavírus e quarentena

Sei que estou devendo muito sobre a gravidez, o nascimento da Mirtilo (Mustikka), mas como sempre ando muito ocupada, deixando para "daqui a pouco" ( o que obviamente vira semanas!) e agora não quero perder a oportunidade de escrever sobre tudo que estou vivendo e passando nesta vida de nova mamãe.

Escrever aqui é mais do que compartilhar com família e amigos sobre minha vida, rotina e pensamentos. É um espaço para recordar, para que eu retorne a certas épocas vividas e possa sentir novamente a magia e revisitar meus próprios pensamentos. E logicamente, que assim como minha mente, este blog não segue uma ordem linear... é uma coletânea de histórias, de experiências e sentimentos. É um pedaço de mim.

E eu não poderia deixar de registrar essa época confusa e incerta devido ao coronavírus. Uma experiência que imagino que nenhum de nós tenha vivido antes. Desde o início de fevereiro eu estou praticamente em quarentena. Ficamos no hospital do dia primeiro ao dia 19 (farei um post sobre isso no futuro), depois por ordens médicas fiquei duas semanas sem poder sair de casa ou receber visitas. E curtimos uma semana de retorno à vida "normal" (o que é normal para uma nova mãe, afinal?) até tudo isso iniciar e estarmos presos em casa novamente.

Naturalmente acaba sendo uma experiência de muita reflexão e muito debate interno. Meu marido está fazendo home office há pouco mais de uma semana e eu posso curti-lo em casa conosco, apesar da situação difícil.

Aqui na Finlândia o governo recomendou a quarentena assim como praticamente todos os outros países europeus. Somos orientados a ficar em casa e evitar multidões. Reuniões e eventos com mais de 10 pessoas foram banidos e o centro da cidade está deserto. Residimos na província de Pirkanmaa (veja mapa ao lado), uma áerea centro-sul do país. No último dia 28, o governo restringiu o transporte de e para a província de Uusimaa (onde fica Helsinki), para tentar conter a propagação do vírus, pois a maior incidência da doença é ao sul do país, em Helsinki e arredores.

Residentes podem retornar às suas casa durante esse período e existem permissões ao transporte dependendo do motivo do mesmo.

Aqui, não estamos saindo de casa a não ser para fazer mercado, ir à farmácia ou caminhar na floresta próximo de casa. Os dias tem sido ensolarados e o clima está ficando cada vez mais ameno. A primavera chegou e não podemos curtí-la direito. Acho que o nosso senso de propósito entrou em vigor com tudo isso, pois com exceção de alguns poucos momentos de estresse e frustração (o que imagino veio da recente maternidade) estamos lidando muito bem com os dias reclusos. Brincar e cuidar da nossa baby, trabalho, documentários e filmes, scrapbooking, the sims, leitura de muitos livros, estudos, limpeza, organização, yoga, cozinhar e inventar receitas, etc. Estamos sempre pensando em coisas para fazer e passar o tempo.

Estou sempre atenta às notícias sobre o coronavírus e sobre o mundo. Isso não tem sido motivo de ansiedade ou medo. O que eu tenho sentido é um pouco de indignação que todo mundo continua ainda dividido, ninguém acredita em ninguém, ninguém consegue confiar em ninguém. E acho que essa situação infelizmente não irá se resolver tão cedo.  Tenho que admitir que a reclusão me ocasionou alguns momentos de estresse e "pavio curto". Mas não tantos quanto esperava. 

A recente maternidade tem me mantido bastante ocupada e envolvida. Mas claro que não poder curtir amigos, receber visitas ou visitarmos a família tem um peso negativo. Lidamos com cada sentimento conforme ele aparece. E assim continuamos.