Dois anos de Finlândia!

Acordo de madrugada para dar de mamar ao bebê. Normalmente ela dorme a noite toda, mas não hoje. É como se ela sentisse que o dia hoje é diferente. O dia de hoje é diferente para mim, sua mãe. Mas estamos ligadas. E é como se ela entendesse. Hoje ela se agita, ela não descansa, ela quer conexão. E são 4 da manhã. Meia hora depois estamos ambas novamente dormindo.

Mais tarde o dia se inicia. E lavo o rosto pensando que hoje completo 2 anos morando neste país incrível que é a Finlândia. Pensando no quanto minha vida mudou desde que aqui cheguei em 10 de junho de 2018. Quando a KLM perdeu nossas bagagens. Quando os gatos ainda não tinham chegado. Quando eu me senti tão perdida e tão pequena. Quando eu não sabia falar quase nem "oi" em finlandês. 

Eu já sabia que minha vida seria aqui. Mas não fazia idéia dos rumos que ela tomaria. 

Minha filha sorri pra mim enquanto brincamos com seu brinquedo de madeira favorito. Ela sorri faceira e vira de bruços. Sozinha. Primeira vez que ela faz isso intencionalmente. Ela ensaia uma risada e desvira. E vira novamente. E nosso dia todo é assim. Cheio de viradas. Pra lá e pra cá. Ela está aprendendo como funciona seu corpo e o que consegue fazer com ele.

Eu estou aprendendo a como me relacionar com ela e como apresentar a ela minha cultura, meu idioma e meu país. Todos esses aspectos tão distantes da vida dela. Porque quase nunca me ocorre que ela é finlandesa. Mais finlandesa que brasileira, pois ela está crescendo aqui. Exposta a atividades, costumes, hábitos e estilo de vida totalmente diferentes do que eu vivi. Diferentes de onde cresci.

Esses dois anos que estou todo dia me adaptando e readaptando. Descobrindo esse novo mundo que é a Finlândia. Ela está descobrindo pela primeira vez seu mundo. E este mundo é por enquanto a Finlândia. Este é todo o universo dela. E há aquele pequeno universo de Brasil que vem comigo. Eu talvez me torne a mãe "que faz tudo diferente". A mãe  que "não entende ao certo". Que não participa das mesmas memórias coletivas que ela terá e que tem sua família daqui e a família de seus futuros amiguinhos da escola. 

Tomo um café e falo com ela em português. Mas as vezes falo também em inglês e até finlandês. Meus primeiros dois anos aqui se completam e se iniciam os dois primeiros anos dela de vida, quase juntos. Ao menos é quando ela parece se dar conta do mundo ao seu redor e de si mesma. Suas mãos, pés e limites. 

Ainda não domino finlandês. Ainda não tenho total conhecimento da vida por aqui. Acho que será um eterno aprendizado. Assim como minha bebê está aprendendo sobre o viver. 

O primeiro ano aqui foi o início de tudo. O segundo ano foi a gravidez e os primeiros meses da minha mirtilinho. Com o incêndio para separar para separar os anos. Este segundo ano vivido foi menos sobre o país, cultura e adaptação e mais sobre um olhar interior a mim mesma, à gravidez e ao lar. Uma visita a expectativas e sonhos. 

Penso neste novo ano que se inicia aqui será ainda mais diferente. Com esta pequenina ao meu lado para explorar. E para tentar entender o que ela vê, o que ela vivencia. O que é a Finlândia pra ela. E tentar também reviver um pouco de Brasil, para que ela possa se sentir também brasileira.